Na homenagem às vítimas do
Holocausto merece referência um homem muito especial, Aristides de Sousa
Mendes. Lembremo-lo como um homem imenso que também participou naquilo que foi
a caminhada dos justos. Aristides é um exemplo a diversos níveis. Conhecer a
sua vida, o enquadramento social, económico e cultural de outras figuras do
País cinzento dos anos trinta e quarenta dá-nos uma real dimensão do seu valor.
Aristides foi um homem que ensinou
ao mundo e a este País como a nossa única obrigação é com a nossa consciência.
Ignorado nos livros de História durante décadas deu-nos a honra de vincular
este País a um verdadeiro heroísmo, o de contribuir para a civilização
contemporânea de um modo construtivo, mas acima de tudo empenhado com a sua
tradição humanista.
Um homem generoso, cristão de
formação, diplomata de profissão salvou milhares de vidas, arriscou na sua
consciência a sua própria família ensinando-nos o valor da partilha e da luta
por uma convicção. Salvou um grande número de judeus pelos vistos que lhe foi
consecutivamente atribuindo, de modo a que fosse possível salvar a vida de
pessoas que apenas queriam existir.
Um homem que revelou nas
dificuldades que sofreu, nas humilhações recebidas, mas essencialmente na luta
abnegada pelo amor à vida a imensa, a infinita mediocridade dos caminhos
estreitos e sem brilho que Salazar outorgava a um país, triste e sem grandeza.
Chamou-se Aristides de Sousa Mendes.
O livro em cima, dá-nos uma ideia do valor da solidariedade e do papel da
consciência do consul de Bordéus. Num País
em que é significativo a falta de figuras e instituições capazes de
honrar a memória do País, ele é também para nós alguém que superou a memória do
Holocausto. A história construída apenas para existir, sem grandeza é uma das
limitações do presente e é com figuras inspiradoras que podemos voltar a ousar
sobre a injustiça. É esse o grande exemplo de Aristides de Sousa Mendes.