quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Memória de Charles Darwin


É uma das formas possíveis de compreender o Homem, a Vida e o Universo. Não é definitiva, mas tem em si possibilidades significativas. Desde os Gregos que o Homem procura compreender a sua natureza, mas também o que o envolve, o meio natural, através de equações que possam ser sistematizadas pela razão. 

Entre os criadores e pensadores de diferentes tempos que contribuíram para o alargamento da Ciência, um tem especial destaque, Charles Darwin. As ideias de Darwin abriram campos novos na ciência. Da Biologia, à Medicina e à Antropologia ele fez avançar a Ciência, que mais não é que a procura racional de compreender o mundo e os seus fenómenos. 

O campo científico contemporâneo é-lhe devedor na formulação do seu próprio pensamento. Um video que nos lembra a importância das suas ideias quando olhamos o universo e a natureza humana. Lembramos a sua teoria da evolução, no dia do seu nascimento.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Garrett - A memória de um tempo longo


(Livro emblemático de Garrett, numa viagem, onde o imobilismo social anunciava solidamente as dificuldades da sociedade liberal em se afirmar nos seus princípios mais nobres. Retrato de um anacronismo histórico que se repetiria no futuro, em formas diversas com outros actores).

"Ora eu, que sou ministerial do Progresso, antes queria a oposição dos frades que a dos barões. O caso estava em a saber conter e aproveitar. O Progresso e a Liberdade perdeu, não ganhou. Quando me lembra tudo isto, quando vejo os conventos em ruínas, os congressos a pedir esmola e os barões de berlinda, tenho saudades dos frades - não dos frades que foram, mas dos frades que podiam ser. E sei que me não enganam poesias; que eu reajo fortemente com uma lógica inflexível contra as ilusões poéticas em se tratando de coisas graves.

E sei que me não namoro de paradoxos, nem sou destes espíritos de contradição desinquieta que suspiram sempre pelo que foi, e nunca estão contentes com o que é. Não, senhor: o frade, que é patriota e liberal na Irlanda, na Polónia, no Brasil, podia e devia sê-lo entre nós; e nós ficávamos muito melhor do que estamos com meia dúzia de clérigos de requiem para nos dizer missa; e com duas grosas de barões, não para a tal oposição salutar, mas para exercer toda a influência moral e intelectual da sociedade - porque não há de outra cá.

E senão digam-me: onde estão as universidades, o que faz essa que há senão dar o seu grauzito de bacharel em leis e medicina? O que escreve ela, o que discute, que princípios tem, que doutrinas professa, quem sabe ou ouve dela senão algum eco tímido e acanhado do que noutra parte se faz ou diz?
Onde estão as academias?
Que palavra poderosa retine nos púlpitos?
Onde está a força da tribuna?

Que poeta canta tão alto que o ouçam as pedras brutas e os roblles duros desta selva materialista a que os utilitários nos reduziram? Se exceptuarmos o débil clamor da imprensa liberal já meio esganada da polícia, não se ouve no vasto silêncio deste ermo senão a voz dos barões gritando contos de réis.
Dez contos de réis por um eleitor!
Mais duzentos contos pelo tabaco!

Três mil contos para a conversão de um anfiguri!
Cinco mil contos para as estradas dos aeronautas!
Seis contos para isto, dez mil contos para aquilo!
Não tardam a contar por dezenas de milhares.
Contar a eles não lhes custa nada.
A quem custa é a quem paga para todos esses balões de papel - a terra e a indústria.  (...)

Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana?"

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Garrett e o seu tempo


Almeida Garrett nasceu a 4 de Fevereiro de 1799, no Porto. Teve na sua infância, uma formação religiosa e clássica. Concluiu o curso de Direito em Coimbra, onde aderiu aos ideais do liberalismo. Em 1823, após a subida ao poder dos absolutistas, é obrigado a exilar-se em Inglaterra onde inicia o estudo do romantismo (inglês), movimento artístico-literário então já dominante na Europa.

Regressa em 1826 a Portugal e passa a participar na vida política. Em 1828 é obrigado a exilar-se novamente em Inglaterra devido ao curso do País com a guerra civil, no decurso das posições de D. Miguel. Em 1832, na Ilha Terceira,1832, integra o exército liberal de D. Pedro IV e participa no cerco do Porto. Exerceu funções diplomáticas em Londres, em Paris e em Bruxelas.

Em 1836, torna-se Inspector - geral dos Teatros e funda o Conservatório de Arte Dramática e o Teatro Nacional. A partir de 1842, com a ditadura de Costa Cabral, Almeida Garrett torna-se marginal à vida política e inicia o período mais produtivo da sua vida literária.
A partir da década de 1850, com Fontes Pereira de Melo, será nomeado visconde e desempenha a função de Ministro dos Negócios Estrangeiros. É sem dúvida um dos expoentes do romantismo português e um escritor que, entre géneros diversos, inovou na composição dos mesmos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A cidade de Garrett


O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde, forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas palavras, sem outro fito  que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros a insurreição do olhar.

 O Porto é só esta atenção empenhada em escutar os passos dos velhos, que a certas atravessam a rua para passarem os dias no café em frente, os olhos vazios, as lágrimas todas das crianças de S. Vítor correndo nos sulcos da sua melancolia. 

O Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore, aproximando-me assim cada vez mais da restolhada matinal dos pardais, esses velhacos que, por muito que se afastem, regressam sempre à minha vida. Desentendido da cidade, olho na palma da mão os resíduos da juventude, e dessa paixão sem regra deixarei que uma pétala pouse aqui, por ser de cal.


Eugénio de AndradeA Cidade de Garrett