segunda-feira, 16 de março de 2015

Um livro - Entrevista a Einstein

Título: Entrevista a Einstein
Autor: Jean Claude-Carrière
Edição: 1ª
Páginas: ...
Editor: Quetzal
ISBN: 978-972-564-686.6
CDU: 821.133.1-83"20"

Sinopse:
« (…) Durante muito tempo, pensámos em linhas rectas, pelo menos esforçámo-nos por isso, em termos de rectidão e de clareza, com a ajuda daquilo a que chamávamos a lógica, a razão, ou ainda a geometria; no nosso pensamento rectilíneo, esforçávamo-nos por ir de um ponto ao outro, o mais rapidamente, o mais simplesmente possível, o nosso pensamento evoluía em triângulos, quadrados, rectângulos e subitamente fomos invadidos pela curva! Pela sinuosidade! 

(…)
O pensamento é lento e frágil. Não é soberano. Não é a coisa mais bem partilhada do mundo, longe disso. Para uma massa de espíritos receosos, saber é enganar-se, saber é perder-se. Subsiste em todos nós algo de mágico e de feérico. Precisamos de feiticeiros, que nos toquem a flauta imperecível e que se encham à nossa custa. Preferimos a crença ao conhecimento, as patranhas às certezas. É assim. (…)

É fácil de compreender. Veja: o universo é irresistível. Constitui uma autêntica sedução. É belo, se esta palavra ainda tem sentido nestes espaços incomensuráveis. Ele encerra em si toda a beleza. Cruelmente, sempre que o olhamos, reduz-nos sem cessar à nossa insignificância. Esmaga-nos. E, no entanto, ao acolher-nos, amplia-nos, abre-nos os olhos e, mais ainda, o nosso espírito, aceita-nos. Os Antigos diziam: revela-se-nos, mostra-se. Ao contrário de Deus, que põe tanto cuidado em se esconder, ele é um imenso exibicionista.(…)

Esta necessidade de um objectivo, de um desígnio, primeiro passo para a finalidade geral do mundo, aplicámo-la, ao que parece, ao universo, como se tudo tivesse de funcionar num sentido comparável ao nosso. Como se as galáxias e os electrões se deslocassem sobre a nossa atitude e desposassem todos os nossos movimentos interiores. Como se o sentido dominasse a realidade. Como se, nos infinitamente grande e pequeno, tudo obedecesse à vontade de alguém, à maquete de um arquitecto habilmente dissimulado. Como se as estrelas estivessem ali penduradas para responder às nossas velhas perguntas. (…)

Quando um pensamento percorre incessantemente o universo, quando se aventura e se perde em distâncias incomensuráveis, na infinidade dos possíveis, e se volta por um momento a fim de fixar nas minúsculas querelas da Terra, reivindicações de fronteiras, possessões, insultos e ameaças (…) um nacionalismo estreito, mesquinho, que nos deixa paralisados, o que dizer?
Como reagir, no regresso das estrelas?»

(É um pequeno grande livro sobre uma figura enorme, justamente Einstein. Um livro que nos dá a hipotética entrevista de um homem que repensou o universo. Por ele caminhamos pela sabedoria de um homem que redesenhou os conceitos do espaço e do tempo, da matéria e da energia. Uma fonte de informação e de prazer sobre a diversidade de uma das mais importantes figuras do século passado. Um livro a descobrir.)

quinta-feira, 12 de março de 2015

Um escritor no mês: as palavras de Agustina


"Todos os meus livros são, afinal, só isso, a oportunidade de milhões de almas, únicas, todas elas, almas de sapinhos cheios de importância de viver. [...] Uns partem um pouco depois de dizerem bom dia, outros ficam até morrer. Todos se continuam naquilo que têm de profundamente entre si - a vocação para serem sós, porém aceites por cada uns dos outros. Porque a solidão que me acusam de impor aos meus personagens, como uma grilheta, é apenas a sua individualidade biológica, a exclusividade, a reivindicação superior da sua própria luta. Um homem jamais corresponde a outro homem; as suas reacções e conclusões não equivalem a vivência de outra alma, a experiência do outro eu. O mistério do eu cumpre-se em cada homem de forma única". (1)

Há muitas coisas belas na terra, mas nada iguala a recordação de um dia de Verão que declina, e temos 11 anos e sabemos que o dia seguinte é fundamental para que os nossos desejos se cumpram. Quem conservar este sentimento pela vida fora está predestinado a um triunfo, talvez um tanto sedentário, mas que tem o seu reino no coração das pessoas. (2)

O mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais, equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança sem nome. (3)

Não são os crentes que se salvam; são os que esperam em plano de igualdade com o que é eterno - a vida humana e a realidade dos seus direitos. Devo acrescentar aqui alguma coisa que sempre me pesou: acima dos amigos eu tive o pensamento; além da gratidão, eu pus o amor forte e generoso pela vida. (4)


Agustina Bessa-Luís, in:
(1) in Revista Lusíada. Porto, Outubro, 1955.
(2) As Pessoas Felizes
(3) Sibila
(4) O chapéu de fitas a voar

segunda-feira, 9 de março de 2015


Título: Voo Noturno
Autor: Antoine de Saint-Exupéry
Edição: 1ª
Páginas: 215
Editor: Casa das Letras
ISBN: 978-972-46-2050-3
CDU: 821.131.1-93

Sinopse: Numa nova semana ainda sob o foco da cultura francesa e de um seus grandes nomes, justamente Antoine de Saint-Exupéry. Voo Nocturno dá-nos em livro, um autor maior da literatura universal. Nas suas páginas, revemos a nossa natureza exposta aos sonhos e aos desejos, de respirar com os outros novas dimensões de humanidade. Em Voo Noturno Saint-Exupéry dá-nos a descoberta dos grandes espaços, entre o mar e o deserto, na ousadia de superar as limitações do homem sobre a natureza. Um pouco auto-biográfico, Voo Noturno é um desenho de um Homem maior, aquele que enfrenta no ar todos os desafios ainda num tempo humano.

Um escritor no mês - Agustina

   

  


segunda-feira, 2 de março de 2015

Um livro - Longos dias têm cem anos


Título: Longos dias têm cem anos
Autor: Augustina Bessa-Luís
Edição: 1ª
Páginas: ...
Editor: Guimarães Editores
ISBN:  978-972-665-568-8
CDU: 821.134.3-94"19/20"

Sinopse: "Maria Helena não tem a simpatia pronta, por isso as entrevistas que dá embatem contra uma superfície lisa, um espelho onde tremem reflexos, onde se procuram teoremas. O repórter tenta desdobrá-la como um pano cuidadosamente enrolado, e sucedem-se os espaços neutros e, de certa maneira, as evasivas. Ela não confia nesse intuito de divulgação, porque o espírito humano não se divulga. A paz e o sofrimento não se divulgam; são fluidos depois de usados, e, no momento em que se praticam, não têm rosto e, assim, não se podem descrever.

(...) Todas as vezes em que procurei Maria Helena porque eu estivesse doente, ou desanimada (como foi o caso, em 1965, de eu pensar em deixar o País), aí deparei com a verdadeira presença que não se distrai, não vagueia, não ilude. Maria Helena reage às coisas concretas e essenciais com uma prontidão admirável.

É raro que as pessoas tenham esse respeito pelo essencial. Costumam escapar ao essencial e ocupar-se pormenorizadamente do acessório. E a vida parece nelas um tumulto de confabulações e artes, sem nada de resistente ou de culto. Aproximamo-nos da Maria Helena e ela pode olhar-nos como se fôssemos um objecto mais ou menos preciso mas que não atrai a curiosidade nem o afecto. Mas se tocamos esse registo do essencial, se houver em nós um risco, um alarme, ela actua e torna-se de repente incansável; algo mais do que amizade e incorrupção da aliança humana surge, como uma flor."