Olhamos para as suas palavras e
parecem-nos oráculos de sabedoria. Verificamos a sua vida e encontramos os
gestos permanentes da coragem. Medimos a sua respiração e é sempre um sonho
feito de consciência. Medimos a sua respiração feita de solidariedade e empenho
e encontramo-nos perante as mais evidente formas de beleza. Verificamos em cada
um dos seus vôos uma queda vertical contra a tirania, essa forma absurda de
existir contra os outros. Bebemos nas suas palavras linhas permanentes de
consciência. Uma insistente forma pela viagem, a vinculação pela aventura, a
geografia do poema em cada forma de possíveis, esses laços essenciais de que a
raposa também conhecia.
Ele foi o principezinho, um
continente de procura e descoberta de planetas infindáveis de sonhos, mesmo
aqueles que são habitados por pequenos homens, repositórios de doenças do
espírito, a visão de uma cidade sem moral, sem a inteligência dos gestos do amor
mais terno. Foi, é uma figura universal e aquilo que dele vimos é que foi quase
um milagre que um homem destes por aqui tenha andado, de mãos dadas com a
fantasia, a única forma de ver em dias de espuma sem espanto. Nasceu há um
pouco mais de cem anos em Lyon, há justamente cento e quinze e foi um escritor,
um ilustrador e deu a vida pelo combate por essa doença maior do espírito, o
nazismo.
Estudou mecânica, entre 1909 e 1914
no colégio de Notre-Dame, em Mans. A partir de 1914 muda-se para a Suiça, para
a cidade de Friburgo. A partir de 921 integra 0 2º Regimento de Aviação de
Estraburgo. Em 1926 começa a sua carreira na aviação civil fazendo a carreira
entre Toulouse, Casablanca e Dacar. Tornou-se um piloto com grande
experiência no deserto, do qual diria “este silêncio não é igual a nenhum
silêncio.” Morreu sobre a costa de Marselha durante a 2ª guerra mundial. Deixou
uma obra de grande valor humanista, ele que era maior que o Humanismo e onde
encontramos os temas que lhe ocuparam a vida. Escreveu para diferentes jornais,
onde reflectiu sobre esse desastre humanitário que foi a Guerra civil de
Espanha, ou a ocupação alemã da França. Da sua obra destaca-se
evidentemente O Principezinho, datado de 1943, que foi escrito durante o
seu exílio nos Estados Unidos. Outras obras merecem referência, as publicadas
em vida e as póstumas:
Em vida:
* O aviador – 1926
* Correio do Sul – 1929
* Vôo Noturno – 1931
* Terra dos Homens – 1939
* Piloto de Guerra – 1942
* O Principezinho – 1943
* Carta a um refém – 1943/1944
Póstumas:
* Cidadela – 1948
* Cartas de juventude – 1953
* Cadernos – 1953
* Cartas à sua mãe – 1955
* Escritos de guerra – 1982
Este homem extraordinário é uma
memória viva do século XX e a demonstração de como somos sempre qualquer coisa
que vive dos muitos que por nós passam. O questionamento que deixou no Principezinho e
a releitura que nos propõe dos nossos julgamentos, das nossas precárias formas
de sucesso são uma pérola de sabedoria. A criança que fomos, um ideal para
olhar o mundo com ternura antiga e esse valor de humanidade, essa
constância de eternidade que cada vida pode ser. Chama-se Antoine de
Saint-Exupéry e continua por aqui, para os que ainda saibam olhar o real e as
cores universais da beleza.