sexta-feira, 21 de abril de 2017

A palavra e o mundo - Alice no País das Maravilhas (I)

Alice no País das Maravilhas é uma narrativa intemporal. Não é exagerado dizer que nele Lewis Carroll conseguiu transmitir-nos o seu fascínio pela infância, por essa delicadeza, por onde o valor das crianças na sociedade começava a ser reconhecido com mais significado. Ela é o resumo essencial de um tempo mágico, de memória de um tempo, onde ele não existe no sentido da sua finitude. O tempo de Alice é o de todas as possibilidades, o real como uma aventura permanente. 

Alice viaja por um tempo de fantasia, olhando para o que ama, procurando dias felizes e limpos, cheios de descobertas. Não há outra personagem como Alice, no mundo infantil. A sua criação por Lewis Carroll é um ponto de eternidade num País onde vivemos um dia e ao qual podemos tentar voltar com imensas dificuldades. 

Na verdade sabemos que as figuras que habitam com Alice não voltam, permanecem num território único e maravilhoso, o País das Maravilhas. Mesmo com o serviço da imaginação todos sabemos que os unicórnios que saltavam em corridas infinitas na floresta já não voltam. A Ilustração de Alice no País das Maravilhas é de uma dimensão quase infinita, pois o seu universo entrou no imaginário cultural da Europa e do Mundo há longa data. De algum modo a lustração criou outras tantas formas de ver Alice. Aqui deixamos algumas.

(Charles Folkard, 1929) 
(Abelardo Morell, 1999)
 (Edwin John Prittie, 1923)

quinta-feira, 20 de abril de 2017

A palavra e o mundo - Alice do outro lado do Espelho (I)


Estás a ouvir a neve a bater nos vidros da janela, Kitty? Como é agradável e suave o som que faz! É como se alguém lá fora estivesse a encher a janela toda de beijos. Eu bem queria saber se a neve gosta mesmo das árvores e dos montes, pois são tão suaves os beijos que lhes dá! E depois cobre-os com tanto cuidado, sabes... como uma colcha branca, e talvez diga assim: "Vamos dormir, queridos, até vir o Verão outra vez.E quando acodam, no Verão, Kitty, vestem-se todos de verde e põem-se a dançar... sempre que houver vento... Oh, como deve ser lindo! - exlamou Alice, deixando cair a meada de lã para bater palmas. - Como eu gostava que isso fosse verdade! Tenho  certeza de que no Outono as florestas têm um ar cheio de sono, logo que as folhas começam a ficar castanhas.

Sob o luminoso céu, num sonho, 
 Desliza o barco, vagarosamente. 
Era uma tarde de Julho...

Abraçadas, três crianças 
De olhar brilhante, ouvido atento, 
Felizes, escutavam ingénua história.

Empalideceu já o luminoso céu, 
Perderam-se as vozes e as lembranças,
Geadas outonais invadiram o calor do Verão.

Outras crianças escutarão ainda 
Esta história, de olhar brilhante, ouvido atento, 
Amorosamente abraçadas.

Viajando no Mundo das Maravilhas, 
Esquecidas dos dias que passam, 
Esquecidas dos Verões que morrem.
Deslizam na onda, sonham, 
Demorando-se no brilho da Luz.... 
Ea vida, o que é, senão um sonho?

Lewis Carroll. (2010). Alice do outro lado do espelho. Lisboa: Publicações Europa-América