terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Memória, cultura e cidadania - Aristides - Memórias do Holocausto


Na homenagem às vítimas do Holocausto merece referência um homem muito especial, Aristides de Sousa Mendes. Lembremo-lo como um homem imenso que também participou naquilo que foi a caminhada dos justos. Aristides é um exemplo a diversos níveis. Conhecer a sua vida, o enquadramento social, económico e cultural de outras figuras do País cinzento dos anos trinta e quarenta dá-nos uma real dimensão do seu valor.

Aristides foi um homem que ensinou ao mundo e a este País como a nossa única obrigação é com a nossa consciência. Ignorado nos livros de História durante décadas deu-nos a honra de vincular este País a um verdadeiro heroísmo, o de contribuir para a civilização contemporânea de um modo construtivo, mas acima de tudo empenhado com a sua tradição humanista.
 Um homem que provou na sua vida o que é a bondade, o que é estar preocupado com os outros, com o seu futuro, com o modo como vivem. Um homem que se preocupou com a vida dos outros e que fez por essa defesa mais do que um País inteiro, num tempo difícil. Quando se recomendava a cautela ele ousou contra os maiores perigos, desafiando os que proibiam, perseguiam e calavam os que queriam ter a possibilidade de dizer uma palavra, a da sua dignidade.

Um homem generoso, cristão de formação, diplomata de profissão salvou milhares de vidas, arriscou na sua consciência a sua própria família ensinando-nos o valor da partilha e da luta por uma convicção. Salvou um grande número de judeus pelos vistos que lhe foi consecutivamente atribuindo, de modo a que fosse possível salvar a vida de pessoas que apenas queriam existir.

Um homem que revelou nas dificuldades que sofreu, nas humilhações recebidas, mas essencialmente na luta abnegada pelo amor à vida a imensa, a infinita mediocridade dos caminhos estreitos e sem brilho que Salazar outorgava a um país, triste e sem grandeza.

Chamou-se Aristides de Sousa Mendes. O livro em cima, dá-nos uma ideia do valor da solidariedade e do papel da consciência do consul de Bordéus. Num País  em que é significativo a falta de figuras e instituições capazes de honrar a memória do País, ele é também para nós alguém que superou a memória do Holocausto. A história construída apenas para existir, sem grandeza é uma das limitações do presente e é com figuras inspiradoras que podemos voltar a ousar sobre a injustiça. É esse o grande exemplo de Aristides de Sousa Mendes.

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