As Bibliotecas são a
mais bela invenção da humanidade. Nelas construímos uma memória e por isso nela
vemos uma construção de divindade, por essa dimensão de espaço e tempo que
connosco emerge em páginas de sabedoria, em filas de amizade connosco vividas.
Há quem já não as ache um templo, pelas necessidades de leituras em novos
formatos, pelas competências digitais que importa desenvolver. Continuo a achar
que o espaço, aquela matéria de eternidade é ainda um templo.
A Biblioteca permite
ser um espaço de recolhimento, entre os livros, onde podemos desfrutar momentos
de lazer e de conhecimento. Nos últimos anos tem-se insistido em
classificá-las, em função da sua capacidade de construir colecções, serviços ou
comunidades e destas dimensões haveriam de nascer as que seriam as melhores
Bibliotecas. Ainda assim um templo.
A Biblioteca deve ser
vista como um espaço cultural, de confluência de várias artes. Deve permitir a
promoção da capacitação institucional. A Biblioteca é o espaço para construir a
leitura, fazer leitores, alimentar esse fundo de imaginação capaz de dotar
todos de melhores possibilidades de vida, porque de escolhas suportadas em
conjuntos de dados, de ideias, de pensamentos mais completos, mais divergentes.
Uma Biblioteca faz assim o leitor. E o que representa ler?
A Biblioteca é um
espaço, mas é sobretudo o que fazemos nela, as ideias que tivemos com ela, com
os livros e as que ainda tentamos ter, nos dias seguintes. A leitura. É com ela
que disciplinamos o olhar e em transformamos o olhar, o ver normal, óbvio para
outra coisa, onde superamos o medo e dispensamos o útil. A leitura é um dos
nossos maiores privilégios.
É com a leitura que
construímos na imaginação um campo de imagens. Por que ler é a partir das
palavras e das frases, construir as imagens que nos darão os mundos possíveis.
Um bom leitor não lê apenas as frases, lê as imagens das palavras. Um mau
leitor é o que apenas lê a frase. A palavra está muito ligada ao seu desenho, à
sua caligrafia. O alfabeto, o livro, o número baseiam-se nessa ideia de desenho
do traço. Deve pois, a Biblioteca acolher esse traço, envolver os leitores com
esse desenho da palavra. Esse desenho da palavra conduz-nos ao livro.
Imagem
- Galeria Vivienne, Paris.