"Todos os meus livros são,
afinal, só isso, a oportunidade de milhões de almas, únicas, todas elas, almas
de sapinhos cheios de importância de viver. [...] Uns partem um pouco depois de
dizerem bom dia, outros ficam até morrer. Todos se continuam naquilo que têm de
profundamente entre si - a vocação para serem sós, porém aceites por cada uns
dos outros. Porque a solidão que me acusam de impor aos meus personagens, como
uma grilheta, é apenas a sua individualidade biológica, a exclusividade, a
reivindicação superior da sua própria luta. Um homem jamais corresponde a outro
homem; as suas reacções e conclusões não equivalem a vivência de outra alma, a
experiência do outro eu. O mistério do eu cumpre-se em cada homem de forma única". (1)
Há muitas coisas belas na
terra, mas nada iguala a recordação de um dia de Verão que declina, e temos 11
anos e sabemos que o dia seguinte é fundamental para que os nossos desejos se
cumpram. Quem conservar este sentimento pela vida fora está predestinado a um
triunfo, talvez um tanto sedentário, mas que tem o seu reino no coração das
pessoas. (2)
O mais veemente dos
vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais,
equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido
metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada
continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança
sem nome. (3)
Não são os crentes que se salvam; são os que esperam em plano de igualdade com o que é eterno - a vida humana e a realidade dos seus direitos. Devo acrescentar aqui alguma coisa que sempre me pesou: acima dos amigos eu tive o pensamento; além da gratidão, eu pus o amor forte e generoso pela vida. (4)
Agustina
Bessa-Luís, in:
(1) in Revista Lusíada. Porto, Outubro, 1955.
(2) As Pessoas Felizes
(3) Sibila
(4) O chapéu de fitas a voar
(1) in Revista Lusíada. Porto, Outubro, 1955.
(2) As Pessoas Felizes
(3) Sibila
(4) O chapéu de fitas a voar
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