sexta-feira, 26 de maio de 2017

A palavra e o mundo - Mozart (II)

«Aquele que possui em si a plenitude da virtude
É como uma criança acabada de nascer» (1)

Mozart e a sua família viajaram por diferentes cortes. Nelas, o jovem Mozart tentou revelar os seus excelentes dotes musicais. As cartas, por ele deixadas e escritas à sua família, quando já era adulto revela-nos um compositor habitado por elevados valores humanos. Revela-nos que as suas dificuldades financeiras foram muito devidas à sua ingenuidade, a essa ideia de que o génio, a capacidade de fazer será sempre reconhecida pelos outros. No século XVII os serviçais da Corte ainda valiam mais que um músico, mesmo do valor deWolfgang Amadeus Mozart.
Mozart é um dos mais elevados marcos da música universal e do pensamento. Criança prodígio na execução dos sons, compositor de centenas de obras musicais tentou por sua conta e risco mostrar o seu talento sem a sombra de patronos. Tendo sido um dos maiores compositores universais onde a complexidade nos é transmitida de forma simples, morreu jovem. Homem otimista, esforçado nas suas tentativas para ser livre, viu postumamente o seu génio ser reconhecido. Músico brilhante nunca quis abdicar da sua honra e da sua consciência, mesmo perante os mais poderosos.

Mozart é igualmente um marco na história do pensamento porque representou um esforço para libertar a sociedade humana do controle realizado por aquilo que foi chamado A Cidade de Deus. No século XVII a Europa Continental ainda estava longe de tolerar diferenças religiosas. Algumas das óperas de Mozart, procuraram mostrar que no serviço a Deus existiam diferentes caminhos. A tolerância e a procura do próprio conhecimento é um direito do Homem. Don Giovanni representa a tentativa de procurar esse caminho novo, ao encontro de uma liberdade que seja acessível ao género humano.

A condenação final que ouvimos em Don Giovani é ainda a confirmação de uma sociedade velha onde o controle apertado da religião sobre os indivíduos é manifesta. De uma forma geral, pelos sons que criou Mozart, perto dos finais do século XVII, ajudou a construir esse trajeto que levaria à liberdade individual do Homem «e à possibilidade de este criar o seu próprio caminho. Naturalmente pela vida que teve e pelo património que deixou, podemos concluir com Zhu Xiao - Mei «Mozart é uma criança (...) que tudo conheceu. Uma criança que teve a profundidade de um velho sábio».

(1) Zhu Xiao-Mei. (2007). O Rio e o seu Segredo. Lisboa: Guerra e Paz.
Imagem - As viagens entre as Cortes da Europa

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