O
que era o País e o mundo em 1957? À exceção de Sophia e de Jorge de Sena, o
País era na década seguinte ao fim da 2ª Grande Guerra a manipulação cinzenta
de uma fantasia de crianças. O Mundo após o terror alemão conduzido pelos nazis
emergia no que alguns consideravam o homem novo, os amanhãs que cantariam.
Em
fins da década de cinquenta o País e o mundo eram a mais profunda sonolência,
uma anestesia de vontade por algo que significasse decência e humanidade. É
desse ano que Vergílio Ferreira escreve um livro que devia figurar nas estantes
de qualquer pessoa com sonhos de compreender a vida e ter nela um papel
substantivo.
Vergílio
tornou-se mais conhecido. Um pouco mais. Não muito mais. Pois ainda é possível
ouvir doutores da formalidade invocar a sabedoria de sebentas, onde palavras
comuns desenham gramáticas de compreensão pouco empenhadas nesse sentido
que foi a sua escrita. A da justamente
invocar a nossa verdade emotiva, aquela que nos faz apreender o mundo, por cima
de códigos ideológicos, ou de confissões do nada. Vale a pena lê-lo. Ele foi um
percursor da substância que mora em nós, um leitor da brevidade e da magia de
estar vivo.
Muitas
vezes desdobramos palavras de quem gostamos ou que nos dizem algo pela sua
relevância curricular, pela sua ligação a um património cultural e
civilizacional. Com Vergílio Ferreira, escritor do mês na Biblioteca em janeiro
aprendemos muito. Aprendemos palavras, ideias, formas de pensar a vida e a
existência. Aprendemos com os alunos formas de pensar possibilidades de criar
no real a nossa própria forma de sermos humanos. Partindo com o receio de não o
saber apresentar pela sua dimensão complexa ficou-nos a satisfação de termos
com os alunos e alguns professores dado a conhecer um homem essencial da
cultura portuguesa e europeia do século XX.
Com
Vergílio Ferreira aprendemos a difícil ética de sermos humanos, compreendemos a
necessidade absoluta de olhar o mundo através de um sentimento estético, que
apenas a arte nos permite obter. Com Vergílio percebemos que a leitura do mundo
faz-se pela nossa emotividade, a quilo que nos faz ter sentido, "a verdade
humana" que nos orienta. É no nosso diálogo com uma dimensão estética da
vida que o mais essencial de nós se afirma. Nos cem anos do seu aniversário
percebamos tão grande lição dada quando muitos gritavam revoluções e impérios
universais. Obrigado amigo!
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