Eufémia encontra-se
no fim de uma planície de vento. Vêmo-la depois de o vento mistral nos encaminhar a um porto de
mar. Eufémia é uma cidade que reúne nações diversas, as de cada solstício e de
cada equinócio. Eufémia é uma cidade portuária. A ela chegam navios com cargas
diversas. Gengibre e algodão, sementes de papoila e sacos de noz-moscada passam
pelos porões dos barcos que aportam a Eufémia.
Estes homens de
diferentes equinócios e solstícios percorrem distâncias, sobem rios, atravessam
desertos para encontrar as mercadorias que em todos os bazares do Grão Kan
existem. O que tem Eufémia então para oferecer que desperte os povos de tantas
e diversas latitudes?
Não é o comércio que
atrai povos a Eufémia, mas sim o encontro junto das fogueiras que inundam o seu
mercado e sobretudo a possibilidade de encontrar palavras. De cada palavra,
"lobo", "irmã", "amor", cada um encontra uma história,
a sua narrativa pessoal para dar substância e cor a cada uma dessas palavras.
Os mercadores
reunidos junto do fogo em Eufémia sabem que em cada viagem, em cada sopro do
vento, em cada deserto atravessado, as nossas memórias transformam essas
palavras em realidades. Como se falando de um lobo, aquele que é nosso se
pudesse transformar noutro. Como se falando de uma irmã, dessa palavra e dessa
memória reconstruida nascesse outra irmã. Como se, da batalha da nossa vida
fosse possível nascer outra batalha, uma cidade invisível feita por nós.
Eufémia é uma cidade de trocas, mas é antes disso uma cidade de memórias. As
nossas.
A partir da leitura
de Italo Calvino. (2011). As cidades invisíveis. Lisboa:
Quetzal.
Imagens - Copyright: Collen Corradi
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