"... nem
cristão, , nem pagão, sarraceno ou
tártaro, nem nenhum homem de nenhuma geração viu, nem explorou tantas
maravilhosas coisas do mundo, como o fez o senhor Marco Polo..."
Viagens de Marco Polo narrados por Rusticiano
de Pisa, que fez a compilação desta aventura é um dos grandes livros da
História Universal. Chamado Livro das
Maravilhas conta-nos uma viagem ao interior da Ásia mais remota. Conduzidos
pela ideia da descoberta e de encontrar formas de apoiar o comércio de Veneza
no Mediterrâneo oriental chegaram a locais tão distantes como o Mar Negro, a
Mongólia ou a China. Contactaram a Pérsia e a Arménia chegando à presença do
Grande Khan, imperador chinês. Este confiando em Marco Polo confiou-lhe missões
diplomáticas em terras distantes. Marco Polo foi o primeiro ocidental a chegar
tão longe e a ter uma proximidade tão íntima com extensas áreas do Oriente.
Marco Polo
regressaria a Veneza. Foi numa batalha
naval entre Génova e Veneza que Marco Polo conheceria uma importante figura de
Pisa, Rusticiano que compilaria as narrativas de viagem de Marco Polo sob o
nome Il Milione que se traduziu num enorme sucesso. A edição francesa dar-lhe
ia o nome Le Divisiament du monde (A Descoberta do Mundo) ou Livre des
Merveilles (Livro das Maravilhas). A importância do livro para a época é
significativo pela amostra de paisagens humanas e civilizacionais que mostra. O
livro tem a grandeza de ser escrito numa abordagem quase antropológica de
relato do que se observa, da diversidade humana. Não se encontram condenações
morais ou religiosas, pelo que é uma rica fonte de conhecimento do Oriente no
final do século XIII.
O livro foi um
sucesso pelo público a que procurava chegar, mercadores e cortes, missionários
e geógrafos. Ainda o é, pela experiência que foi, pelo itinerário que nos
permite conhecer e que certamente justificaria um conjunto diverso de
publicações no blog, mas também pelo imaginário literário que criou. Italo
Calvino criou um livro maravilhoso a que temos dado uma particular atenção,
onde colocou justamente Marco Polo e Hublai Khan a falar sobre as cidades
invisíveis de famosos reinos. Livro das Maravilhas de Marco Polo faz-nos
lembrar uma outra viagem, a de Fernão Mendes Pinto e a sua Peregrinação.É
desconcertante a diferença, pela partida com diferente motivação e de
resultados também diversos. Dois séculos depois a Ásia e os homens parecem ter
mudado para um sentido mais violento.
Livro das Maravilhas
é ainda uma grande livro pela lição civilizacional que nos oferece para os
tempos de hoje. A sua mensagem de tolerância e curiosidade pelo mundo é ainda
algo que devemos valorizar. Maravilhas do Mundo é ainda e talvez isso seja o
mais importante, uma clara confiança no homem como construtor de cidades, de
civilizações de trocas, de memórias, de sinais, de nomes, onde se reconhecem
formas multiculculturais do viver humano.
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