Há um planalto que faz
anunciar uma cidade. Subindo da encosta sul chegamos a ele e do de uma das suas
margens avistamos uma cidade que se destaca pelas suas luzes. Irene é uma
cidade que se apresenta às horas em que as primeiras iluminações se acendem,
quando as habitações de fundo rosa se avistam do planalto. A cidade está
rodeada de elementos, de sombras e em noites estreladas Irene é uma cidade como
uma clarão que se anuncia na distância.
O planalto que nos
faz chegar a Irene é utilizado por pastores, caçadores de pássaros e eremitas.
todos falam de Irene, a cidade que se anuncia como uma visão do planalto.
Os que frequentam
planalto ouvem muitos sons, uns de paz e outros de guerra, uns iluminados,
outros de sombras por desvendar. Este viajantes perguntam-se o que se passará
na cidade, se visitar Irene nesse dia pode ser bom ou não. Perguntam-se não por
quererem ir a Irene, pois os seus acessos são precários, mas porque lá a cidade
magnetiza os que olham e os que pensam dos que estão fora, dos que estão na
orla do planalto.
Kublai Kan aguarda a
chegada de Marco Polo. Kublai Kan pretende saber como será Irene vista do seu
interior. Marco não pode aceder ao pedido de Kublai Kan. A cidade destes
viajantes, essa cidade que eles chamam Irene não é reconhecida por ela mesma.
Mas isso que parecia importante não o é, pois Irene é apenas o nome de uma
cidade observada de fora, de longe, do planalto. quando se entra nessa cidade o
seu nome muda.
Afinal a cidade
observada de longe, aquela em que não se entra é uma, sendo uma outra quando se
é conquistado pelas suas casas, pelas suas ruas. Uma cidade a que se chega é
uma cidade diferente quando se parte, ou aquela a que nunca mais se volta. Em
cada forma de olhar uma cidade, há uma cidade diferente, uma cidade invisível,
ou talvez os nomes dessas cidades invisíveis sejam as que conhecemos um dia sob
o nome de Irene.
A partir da leitura
de Italo Calvino. (2011). As cidades invisíveis. Lisboa: Quetzal.
Imagens - Copyright: Collen Corradi
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