A Islândia é uma
paisagem entre a desolação, a solidão nos elementos e um sentido onírico, pelas
viagens que nos permite fazer, a nós, emersos num natural imenso, do tamanho da
fundação do mundo. Viver na Islândia implica fazer um diálogo com esse natural.
Implica fazer das forças naturais, dos elementos, dos vulcões, das montanhas de
gelo formas de pensamento e ver em tudo isso formas silenciosas dos deuses. A
cada instante a água, o vento, a neve nos revela que há forças vitais a
suportar esse momento que parece tão próximo da fundação do dia em Deus acordou
para o mundo. Só um homem capaz de entender essa vitalidade e de a reconstruir
no seu quotidiano, nas suas lendas, no sentido épico poderá viver num espaço desses.
É neste enquadramento
que Valter Hugo Mãe compõe uma história, onde ao lado dos elementos naturais,
feitos de uma dimensão agreste nos conta uma história de amor, uma narrativa de
perda e uma reconciliação com a vida.
Juntando referências
da mitologia nórdica, a conteúdos da literatura de natureza épica (Jóhann
Sveinsson Kjarval) ou à música dos hinos religiosos (Hallgrímur Pétursson),
ou a referências literárias muito significativas (Thor Vilhjálmsson),
A Desumanização é um obra literária cheia de natureza e de poesia.
A Desumanização é um relato comovente sobre
uma criança à deriva, sobre uma aldeia perdida num fiorde, mas é sobretudo a
construção de uma viagem entre esses elementos naturais, os homens e Deus.
Desse Deus não organizado em sentidos oficiais, mas aquele que se revela no
natural, que se revela nas coisas, aquele que nos mostra que o homem é um ser à
espera de um fim, pois "tudo na vida tem a ver com a morte". A
conciliação final é uma redenção feliz para um conjunto de personagens à deriva
num continente de gelo e desolação. A Desumanização é um livro
imenso e não será exagerado dizer-se que é uma obra-prima da literatura.
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