Permanecem logo
tempo em silêncio, mas depois gritam uns com os outros com fúria repentina,
numa algazarra de sons que quase não variam e aos quais falta a perfeição dos
nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto. E como deve ser
penoso o seu amar-se: áspero, quase brusco, imediato, sem uma macia capa de
gordura, facilitado pela sua natureza filiforme que não prevê a heróica
dificuldade da união nem os esplêndidos e ternos esforços para a consumar.
Não gostam da água
e têm medo dela, e não se percebe por que razão por que razão a frequentam.
Também se deslocam em bandos, mas não levam fêmeas e adivinha-se que elas se
encontram algures, mas sempre invisíveis.
Às vezes cantam,
mas só para si, e esse canto não é um chamamento, mas uma forma de lamento
pungente. Cansam-se depressa, e quando a noite cai estendem-se sobre as
pequenas ilhas que os transportam e talvez adormeçam ou olhem para a lua.
Passam deslizando em silêncio e percebe-se que são tristes.
Antonio Tabucchi.
(2016). Mulher de Porto Pim e outras histórias. Lisboa: D.
Quixote.
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