António, é um artesão das palavras,
respira com elas num assombro que nos transmite as condições mais nobres e
desoladas da natureza humana. António não escreve histórias. Usa as palavras
para respirar os objectos do quotidiano, os gestos que nos deslumbram entre o
olhar mais doce e a solidão das horas gastas.
António Lobo Antunes tem-nos dado em
múltiplos livros o trabalho artesanal do escritor que do mundo, da humanidade
se reconstrói em cada coração para chegar a olhares mais particulares, à sombra
"das árvores nas janelas". António escreve livros com fios, por onde
as nossas células adivinham caminhos e formas nos próprios passos. Com as suas
palavras, as suas notas, reformula os significados das emoções que por entre as
cotovias do bosque nos parecem tão pouco expressivas para a raridade, a memória
de tempos ali vividos.
António escreve usando a emoção nas
palavras, para encontrar nos gestos trabalhados, a conquista breve dos dias.
António é um poeta não das palavras, mas do real por onde conquista as sombras
e ausências, os significados, os instantes do que significa viver, existir e
morrer. António Lobo Antunes nasceu com essa ambição de ser um escritor, para
nos dar o ritmo das paisagens respiradas, onde tece as palavras que nos fazem
olhar para o interior do que somos. Formou-se em Medicina, especializou-se em
psiquiatria, mas descobriu que a a sua maior identidade são os livros.
Daqueles, poderemos destacar os Livros
de Crónicas (com destaque obrigatório para o quatro e o cinco), Memórias de
elefante (1979), Explicação dos pássaros (1981), O Regresso das caravelas
(1988), O Manual dos inquisidores (1996), Exortação aos crocodilos (1999), Não
entres tão depressa nessa noite escura (2000), Ontem não te vi em Babilónia
(2008) e Sóbolos rios que vão (2010).
A sua obra tem recebido diferentes
prémios. Destaque para a France Culture (1996), Donoso (2006), Camões (2007) e
Clube Literário do Porto (2008). Em 2012 foi o escritor em destaque na
Escritaria, festival literário e cultural da cidade Penafiel. É um dos nomes
universais da língua portuguesa e sem dúvida um autor amplamente merecedor de
um Nobel na Literatura, embora isso seja pouco relevante. O que nos tem dito e
explicado das nossas sombras e alegrias e a sua exposição mundial fazem dele
uma das referências culturais em língua portuguesa.
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