quarta-feira, 1 de outubro de 2014


António, é um artesão das palavras, respira com elas num assombro que nos transmite as condições mais nobres e desoladas da natureza humana. António não escreve histórias. Usa as palavras para respirar os objectos do quotidiano, os gestos que nos deslumbram entre o olhar mais doce e a solidão das horas gastas.

António Lobo Antunes tem-nos dado em múltiplos livros o trabalho artesanal do escritor que do mundo, da humanidade se reconstrói em cada coração para chegar a olhares mais particulares, à sombra "das árvores nas janelas". António escreve livros com fios, por onde as nossas células adivinham caminhos e formas nos próprios passos. Com as suas palavras, as suas notas, reformula os significados das emoções que por entre as cotovias do bosque nos parecem tão pouco expressivas para a raridade, a memória de tempos ali vividos.

António escreve usando a emoção nas palavras, para encontrar nos gestos trabalhados, a conquista breve dos dias. António é um poeta não das palavras, mas do real por onde conquista as sombras e ausências, os significados, os instantes do que significa viver, existir e morrer. António Lobo Antunes nasceu com essa ambição de ser um escritor, para nos dar o ritmo das paisagens respiradas, onde tece as palavras que nos fazem olhar para o interior do que somos. Formou-se em Medicina, especializou-se em psiquiatria, mas descobriu que a a sua maior identidade são os livros.

Daqueles, poderemos destacar os Livros de Crónicas (com destaque obrigatório para o quatro e o cinco), Memórias de elefante (1979), Explicação dos pássaros (1981), O Regresso das caravelas (1988), O Manual dos inquisidores (1996), Exortação aos crocodilos (1999), Não entres tão depressa nessa noite escura (2000), Ontem não te vi em Babilónia (2008) e Sóbolos rios que vão (2010).

A sua obra tem recebido diferentes prémios. Destaque para a France Culture (1996), Donoso (2006), Camões (2007) e Clube Literário do Porto (2008). Em 2012 foi o escritor em destaque na Escritaria, festival literário e cultural da cidade Penafiel. É um dos nomes universais da língua portuguesa e sem dúvida um autor amplamente merecedor de um Nobel na Literatura, embora isso seja pouco relevante. O que nos tem dito e explicado das nossas sombras e alegrias e a sua exposição mundial fazem dele uma das referências culturais em língua portuguesa.


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