Tinha
oito anos e um laçarote novo ao pescoço. Toda catita! Ia a um concerto e
a mãe tinha querido que fosse bem aperaltado. Afinal, não era um
concerto qualquer. Ia sentar-se ao piano e tocar! Sentia-se estranho com
aquele laço, mas a mãe tinha tido tanto empenho a fazê-lo...
Aprendera com ela a tirar sons com melodia do teclado em carreirinhas brancas, semeado e carreirinhas pretas.
Assustado, o coração, com tanta gente a espreitá-lo.
Chegado a casa, salta a pergunta ansiosa da mãe:
- Então, Chopinek?
Não responde logo, hesita. Depois, agilmente, como pássaro libertado:
- Acho que gostaram do meu laço novo...
Debruça-se
sobre o piano, desperta as carreirinhas . Desperta a casa, a
imaginação. Desafia sonhos de viagens, movimentos de danças, serões sob
as estrelas, vozes que correm, passos ritmados, pé leve. Descobre-nos a
alma.
Justina, a mãe da casa, esqueceu-se do movimento que ia fazer...
Luísa deixa-se transportar nas mãos do irmão. Querido Fréderic...
Isabel talvez dormisse, talvez não...
Interrompido o choro de Emília, esquecida a razão.
Nicolas, o pai da saca, suspenso no dia.
O som espraia-se e apaga o mundo, acorda o espaço.
Movem-se as carrerinhas brancas, semeadas de carreirinhas pretas, sob os dedos de Fréderic François Chopin.
O meu primeiro Chopin / Rosa Salvado Mesquita. Alfragide: D. Quixote, 2009
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