"Dançam, nem
sabem que a alma ousada
Do morto ainda
comanda a armada,
Pulso sem corpo ao
leme a guiar
As naus no resto do
fim do espaço:
Que até ausente soube
cercar
A terra inteira com
seu abraço."
Fernando Pessoa.
(19712). Mensagem. Lisboa: Ática
Fernão de Magalhães é
uma das figuras maiores da História, no sentido em que se propôs realizar a
primeira viagem de circum-navegação ao mundo. Nele combinam-se a irreverência,
a aventura, a tenacidade dos gestos, o apelo à descoberta e também o valor
comercial que a viagem poderia-lhe dar e ao seu patrocinador. É muito difícil
definir a figura humana de Magalhães naquilo que ele era interiormente. Sabemos
os factos, as decisões que tomou e é por elas que podemos desenhar um pouco do
que foi Magalhães.
O que construiu é de
uma dimensão excepcional. Da História Universal e dos homens chamados
navegadores, ele é um dos três maiores e dentro da nacionalidade portuguesa
nenhum se lhe compara. O seu nome está associada com descobertas de diferentes
tempos. A sonda da Nasa enviada a Vénus em 1989 chamava-se justamente
Magellan.
Duas galáxias que atravessam a noite no Hemisfério Sul e que se podem ver a olho nu chamam-se Nuvens de Magalhães.
Duas galáxias que atravessam a noite no Hemisfério Sul e que se podem ver a olho nu chamam-se Nuvens de Magalhães.
O seu nome está
ligado aos mares do fim do mundo quando o continente americano se dissolve
entre dois oceanos. O nome da Patagónia por ele atribuído em função do tipo de
pessoas que habitavam a América do Sul deve-se também a ele. A cidade de
Montevideu é sua filha, pois foi ele que lhe atribui o nome "monte
videm". Até o nome científico dos pinguins do Atlântico Sul lhe devem o
nome, Spheniscus magellanicus.
Sobre ele próprio e
antes de chegar à armada das Molucas foi outras coisas. Esteve como pajem na
corte da rainha D. Leonor, foi escudeiro do rei D. Manuel, funcionário da Casa
das Índias, integrou o serviço de Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque,
quando estes eram vice-reis da Índia. Participou ainda na conquista de Azamor e
em expedições em Marrocos.
Magalhães conhece o
seu valor, exige-o ao rei D. Manuel. A proposta de atingir as Molucas não lhe é
reconhecido pelo rei. Magalhães é humilhado nas suas pretensões. Os reis de
Espanha dar-lhe-ão o que ele pede. Atingir as Molucas com uma armada que chegue
às especiarias fora do decidido no Tratado de Tordesilhas. A armada partirá de
Sanlúcar, no dia 20 de Setembro de 1519. Em Outubro de 1520 atravessam "O
cabo das mil viagens", o famoso estreito que ficará com o seu nome e que o
conduziria ao oceano Pacífico. Em 1521 morre nas Filipinas num gesto que
combinará escolhas que o parecem destinar para um fim escolhido. O que restava
da armada chega à Europa a sete de Setembro de 1522.
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