segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Dia Internacional das Bibliotecas Escolares


A biblioteca terá que ser o centro da sociedade. O homem é um animal leitor, leitor do mundo. Procuramos a constelação das narrações: quem são os outros e onde estamos. Desenvolvemos o poder da imaginação. Somos capazes de criar o mundo antes mesmo da criação do mundo.Temos que aprender a conduzir-nos no mundo e a contar histórias. Criamos bibliotecas porque precisamos de saber quem somos, de onde vimos e para onde vamos. As bibliotecas são a memória pública e a memória privada.

A biblioteca é a autobiografia de cada um. É o rosto de cada um de nós. As bibliotecas são também a biografia da sociedade, a sua identidade. As bibliotecas públicas são o rosto da comunidade. Nós somos o que a biblioteca nos recorda o que somos. Um livro conta a experiência de cada um, onde estão as paixões mais secretas e os desejos mais íntimos. “Clínica da alma” é a melhor definição de biblioteca. A centralidade da atividade intelectual está na clínica da alma!

Alexandre Magno viajava sempre com o livro A Ilíada. O livro fazia-o aprender que as vítimas são tão importantes como os triunfadores. Um rei da Pérsia levava sempre os livros da sua biblioteca quando viajava - 117 mil livros - por ordem alfabética. No séc. XV, o conquistador Pedro de Mendoza levou 7 livros para fundar a cidade de Buenos Aires, autores como Petrarca, Virgílio, etc. Um conquistador leva a história de um outro povo para fundar outro povo, para que a biblioteca seja universal.

Duas figuras simbólicas: o Papa Gregório I (séc. VII) decidiu que a Biblioteca Palatina não devia ter autores pagãos e decide queimá-la, elegendo só alguns autores para lá permanecerem; S. Isidoro de Sevilha que afixa à porta da biblioteca “Aqui há obras cristãs e não cristãs”. Temos que deixar S. Isidoro acompanhar-nos nas bibliotecas, na procura da universalidade.

Falar da universalidade para a biblioteca virtual é uma ambição: ter todos os livros do mundo e continuar a ter os mesmos problemas da biblioteca de Alexandria. Os bibliotecários de Alexandria para resolver o problema da pesquisa de um documento precisavam de um motor de busca para encontrar o livro. Temos que estabelecer uma forma de pesquisa na biblioteca universal, o motor de busca perfeito. A biblioteca virtual não pode bastar-se a si mesmo.

Vivemos num mundo incoerente, absurdo, as bibliotecas dão uma certa coerência ao mundo. Não podemos esquecer-nos. À porta da biblioteca eu colocava “Clínica da alma- aqui se encontram livros de todo o género”, e colocava também uma pergunta “para quem são estes livros, para quem é esta biblioteca? Para quem é a tecnologia? Isto dá responsabilidade à biblioteca!

Alberto Manguel. “Reading and libraries”. (resumo aproximado). 02.2012.


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