“Phileas
Fogg ganhara, portanto, a aposta - e efectuara em oitenta dias a viagem à volta
do mundo! Utilizara nela todos os meios de transporte, paquetes, comboios,
carruagens, iates, navios mercantes, trenós e um elefante. O excêntrico
cavalheiro desenvolvera nesta empresa os seus maravilhosos dotes de sangue-frio
e de exactidão. Mas, afinal, o que tinha ganho nesta deslocação? O que
alcançara com a viagem?
Nada, hão-de dizer. Nada, na verdade, a não
ser uma sedutora mulher, que - por muito inverosímil que isto pareça - o tornou
o mais feliz dos homens!
Em rigor, não se faria ainda por menos a
volta ao mundo?" (pág.
283)
A
Volta ao mundo em oitenta dias é um livro da literatura universal que cumpre um
conjunto de objectivos de grande significado. Retrata uma época, introduz-nos
na viagem como possibilidade humana e dá-nos o desafio da superação humana, o
tempo individual face à geografia. O protagonista da história é um senhor
inglês, Phileas Fogg, um cidadão de Londres que vive uma vida solitária e calma
feita de rotinas.
É
no Reform Clubé, onde passa grande parte do dia, e onde pela leitura dos
jornais que toma conhecimento do roubo num banco. Discutindo sobre o paradeiro
do ladrão defende a ideia de que poderia estar em qualquer ponto da Terra. Faz
assim uma aposta de que em oitenta dias poderia dar a volta ao planeta. Livro
de iniciação à viagem é também uma curiosa forma de ler o tempo. Mesmo com os
transportes ainda em início de grande transformação, a utilização do vapor
dá-lhe esse desafio, ainda que complementado com outras formas de locomoção.
Hoje seria muito fácil fazê-lo. Na época de Júlio Verne essa aventura é o que
lhe dá o sentido de um clássico. O sentido do desafio.
Assim
o cavalheiro inglês acompanhado do seu criado, o francês Jean Passepartout
atravessa oceanos em navios a vapor, utiliza estradas usando a carruagem, o
comboio e até o meio pedestre ou o transporte por animais. É uma viagem
cronométrica feita em oitenta dias, com partida e chegada a Londres. Na viagem
depara-se com obstáculos e figuras tradicionais do romance como a jovem em
apuros que é salva pelo nosso viajante.
A
volta ao mundo em oitenta dias é assim um clássico pela integração de um
conjunto de situações. Embora o livro tenha momentos e situações de romantismo
foi escrito numa atmosfera de ficção e é como tal que o devemos ler, mesmo
quando a sorte ou o dinheiro são a forma de ultrapassar dificuldades. A viagem
é ela própria uma forma de superação, mas também de reencontro com ele próprio,
com o encontro com o amor. A volta ao mundo em oitenta dias é um produto de
imaginação e uma narrativa fascinante de um autor marcante do século XIX.
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