Subitamente, Ega
parou:
- Ora aí tens tu
essa Avenida! Hem? Já não é mau!
Num claro espaço
rasgado, onde Carlos deixara o Passeio Público pacato e frondoso - um obelisco,
com borrões de bronze no pedestal, erguia um traço cor de açúcar na vibração
fina da luz de Inverno: e os largos globos dos candeeiros que o cercavam,
batidos do sol, brilhavam, transparentes e rutilantes, como grandes bolas de
sabão suspensas no ar.
Dos dois lados seguiam,
em alturas desiguais, os pesados prédios, lisos e aprumados, repintados de
fresco, com vasos nas cornijas onde negrejavam piteiras de zinco, e pátios de
pedra, quadrilhados a branco e preto, onde guarda-portões chupavam o cigarro: e
aqueles dois hirtos renques de casas ajanotadas lembravam a Carlos as famílias
que outrora se imobilizavam em filas, dos dois lados do Passeio, depois da
missa "da uma", ouvindo a Banda, com casimiras e sedas, no catitismo
domingueiro.
Todo o lajedo
reluzia como cal nova. Aqui e além um arbusto encolhia, na aragem, a sua
folhagem pálida e rara. E no fundo a colina verde, salpicada de árvores, os
terrenos de Vale Pereiro, punham um brusco remate campestre àquele curto
rompante de luxo barato - que partira para transformar a velha cidade, e
estacara logo, com o fôlego curto, entre montões de cascalho.
Eça de
Queiroz. (2013). Os Maias. Porto: Porto Editora, pág. 244
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