"Há
muito tempo, ela encontrara um seixo branco numa praia. Sacudiu a areia
e guardou-o no bolso e, já em casa, meteu-o numa gaveta. Um seixo
polido e arredondado pela longa carícia das ondas.
Parecia-lhe
que a brancura da pedra era quase transparente mas, quando tentou
espreitar lá para dentro, percebeu que se enganara. (Era na verdade um
seixo branco absolutamente vulgar.)
De
vez em quando, tirava-o da gaveta e pousava-o na palma da mão, e
pensava que, se o silêncio pudesse ser condensado no mais pequeno e mais
sólido dos objetos, seria aquela a sensação que provocaria quando o
agarrasem
Ao
longe, surge uma saliência na superfície da água. O mar de inverno
prepara a sua chegada, agitando-se cada vez mais. A onda atinge a altura
máxima de que é capaz e desfaz-se depois numa multidão de gotículas
brancas. A água, diluía a sua forma, recua sobre a areia da margem.
De
pé, naquela fronteira onde a terra e a água se encontram, a observar a
recorrência aparentemente interminável das ondas (apesar de esta
eternidade ser na verdade uma ilusão), sente-se com uma clareza
inabalável esse facto de as nossas vidas não serem mais do que breves
instantes.
As
ondas ficam de um branco ofuscante no momento em que se desfazem. Mais
ao longe, a superfície tranquila da água reluz como se fossem as escamas
de uma imensidão de peixes. É ali que está o brilho das multidões. A
passagem, a agitação, a comoção das multidões. Nada é eterno."
"Seixo" e "Onda", in O livroo branco / Han Kang. Alfragide D. Quixote, 2019
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