sábado, 16 de março de 2013

A leitura


"A leitura constitui para o homem uma companhia que não ocupa o lugar de nenhuma outra, mas que nenhuma outra poderia substituir." (1)

A leitura é um arte e uma aprendizagem. Edifica-se num artesanato laborioso da palavra, no olhar iluminado da visão e na percepção íntima dos gestos que nos restituem a individualidade de cada um. A leitura, construída no acto de ler é uma respiração que se apresenta, se disponibiliza universalmente a cada um, na linguagem do signo, da descoberta dos sentidos e na materialização do conhecimento.

A leitura como acto de construção, de desenho individual de uma intimidade própria, libertadora da presença e da orientações exteriores, revela dificuldades em se afirmar, com prazer em públicos jovens. Este é um desafio para a escola, para as Bibliotecas e para os educadores em sentido geral.

Desafio que nos conduz ao que é o livro, o seu papel na sociedade, o modo como lidamos com as suas representações. As transformações no mundo do trabalho, os novos tempos sociais, a urbanização acelerada transformou os jovens em clientes de uma sociedade, onde múltiplos écrans diluem esse prazer pela palavra escutada.

Um dos grandes desafios da Biblioteca é de restaurar esse prazer na leitura, invocando as vozes, sons e cheiros que acompanham a escrita laboriosa dos ausentes que a nós chegaram. É essencial convocar nos públicos jovens este mundo admirável, onde o espaço e o tempo se concentram em momentos fugazes de eternidade. Daniel Pennac deu-nos em, Como Um Romance, as linhas que importa cuidar para restaurar essa respiração que nos alimenta a magia do ser. Com ele solicitamos às palavras esse grito de presença no quotidiano:

"Não declamou Flaubert a sua Bovary em altos gritos (...) Não estará ele definitivamente melhor colocado do que qualquer outro para saber que a compreensão do texto passa pelo som das palavras, de onde deriva todo o seu sentido? Não saberia ele como ninguém, ele que tanto lutou contra a música intempestiva das sílabas, contra a tirania das cadências, que o sentido se pronuncia? (...) Gigantescos anunciadores do sentido, venham cá! Venham soprar nos nossos livros! As palavras precisam de corpo! Os nossos livros precisam de ter vida!" (2)

(1)/(2) - Daniel PennacComo Um Romance, Edições Asa
Imagem, in http://osilenciodoslivros.blogspot.com

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