segunda-feira, 18 de março de 2013

Do livro ao leitor


A História das Instituições e a evolução social estão marcados por um objecto que lê o que nos rodeia e que é por isso uma ferramenta de análise e de assimilação de valores culturais. A importância do livro nas sociedades históricas releva da construção da memória, da afirmação e coesão do contexto social, mas também das suas marcas nos espaços privados, na construção do gosto individual. Exemplos da tentação de domesticar as ideias, pela posse de livros censurados, a sua destruição como objecto desorganizador do quotidiano não faltam.
O livro empresta aos seus utilizadores uma desafiadora noção de individualidade, capaz de fazer criar a dúvida, a inquietação e é por isso que alguns no extremo acreditaram que queimar o livro, é destruir as palavras e a as ideias que nele vivem. Acreditaram infantilmente que o passado podia ser mais que apagado, reescrito. O livro tem pois um valor significativo, mas também simbólico. Ele empresta ao quotidiano aspectos organizativos, concedeu valoração a muitas representações culturais e certificou ideias emergentes e causas. O livro revela-se como objecto e ferramenta de um quotidiano, onde o leitor constrói a escrita do livro.
António Lobo Antunes costuma dizer que depois de escrito, o livro é do leitor. As diversas leituras dão ao livro significados diferentes no tempo e no espaço. Leituras do próprio autor, em função de contextos diferenciados, onde a leitura pública ofereceu respostas à formação de leitores, às dúvidas do autor e também à censura dos livros. Compreender o acto criativo pelas palavras é ainda hoje um mistério e o verdadeiro desafio para comparar o diálogo entre a voz do escritor e a a voz do texto. Leitura e assimilação que foi feita de modo diverso e que as portas da leitura realizaram ao alimentarem mundos particulares.
É o caso do universo feminino que pela leitura reelaborou no privado o que publicamente lhe era inacessível. De que modo a leitura nas mulheres fez questionar as regras e as possibilidades quotidianas, como se alimentou o coração das sílabas e como elas influenciaram o vivido é algo que o autor do livro nos dá apenas parceladamente. Uma História que relacione as mentalidades e os quadros mentais com a vida vivida e a oferecida pelos livros é algo que está ainda timidamente feito. A análise dos personagens dos livros reflecte esta distinção na sociedade e é um dos aspectos simbólicos do livro. O seu leitor. Ele é também o criador de uma conversação consigo próprio, mas também com o mundo.


(imagem, in http://booklover.tumblr.com/)

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